
Fotos: O poeta Josimar Miranda caracterizado com sertanista, o servidor público Nelson Correa Filho como almotacé e o cantor Manoel Evaristo (vulgo Macaco) com militar da Companhia de Pedestres.
Desde que Pascoal Moreira Cabral em 1719 noticiou o descobrimento de grande quantidade de ouro junto ao ribeirão do Coxipó, a região de Cuiabá, antes habitada apenas por etnias nativas, tornou-se palco de uma fenomenal migração de aventureiros em busca de riquezas.
“ Divulgada a noticia pelos povoados, foi tal o movimento que causou nos animos, que das Minas Geraes, Rio de Janeiro e de toda a capitania de S. Paulo se abalaram muitos, deixando casas, fazendas, mulheres e filhos, botando-se para estes descobertos como se fôra a Terra da Promissão ou Paraizo incoberto, em que Deus pôz nossos primeiros paes.”( Chronicas do Cuyabá - Annais do sennado da Câmara de Cuiabá).
Quando então no ano de 1723, o padre André dos Santos Queiroz chegou ao povoado de São Paulo de Piratininga, levando grandiosa carga de ouro, referente aos quintos recolhidos na mina, a noticia alcançou não só Portugal, como também toda a Europa.
“Entrando o anno de 1723 partiu monção para povoado de bastantes canôas carregadas de ouro, em que foram os primeiros quintos que destas minas sahiram para Sua Magestade, e por conductor delles e da mais comitiva o padre André dos Santos Queiroz. Chegada esta a povoado e sabida a grande e quantiosa machina de ouro que ia e que noticiou o dito padre, cuja vóz tudo atroava, foi uma trombeta que chegou ao fim do orbe e soando a fama do Cuyabá por todo o brazilico Hemispherio, até Portugal, e ainda pelos reinos estranhos” (Annais do sennado da Câmara de Cuiabá)
À vista de tanto ouro prazido pelo padre e as fabulosas noticias que davam os integrantes da monção que o acompanhava, a notícia percorreu o mundo. Era tanto ouro na terra, que ao se arrancarem moitas de capim encontravam-se pepitas de ouro reluzentes em meio a suas raízes.
"Sem serem procuradas apareceram as minas de Cuiabá. Pascoal Moreira Cabral e seus companheiros andavam à cata de índios quando encontraram os primeiros grãos de ouro, em 1719, em tamanha abundância que se extraia com as mãos e paus pontudos. Tirava-se ouro da terra como a nata do leite, na expressão pinturesca de Eschwege” (CAPISTRANO DE ABREU in Taunay – História das bandeiras paulistas).
A febre do ouro tomou conta do território luso-brasileiro transformando roceiros, faiscadores, beatos, escravos, brancos, negros e pardos em fascinados aventureiros aurifamélicos.
“[...] novos clamores atroaram o Brasil: Ouro! Ouro! ....Era riquíssima! E a turba dos aventureiros se preparou febrilmente para acudir em massa à exploração daquela nova bolsa de metal amarelo que jazia à flor da terra” (TAUNAY)
O povoado de São Paulo era o ponto de partida onde se concentravam os aventureiros, a espera das embarcações que os levaria as ricas minas. A pequena cidade, de repente, se encheu de uma população flutuante, que nada tinha a ver com os tradicionais habitantes, que não se aglomeravam na capital, vivendo em sítios e fazendas nas circunvizinhanças.
“ São Paulo era o ponto obrigado de passagem para as minas de Cuyabá; para ahi convergiam forasteiros adventícios, vindos de Portugal, de Minas Geraes, de todas as capitanias do Brasil, pobres, andrajosos, carregados de dividas, sem responsabilidade e sem imputabilidade, ávidos de dinheiro, sequiosos de riqueza, brutaes e turbulentos. Os bandos armados, que se organizavam para a exploração das minas, compostos, então, de negros, indios, mulatos, mamelucos e brancos d: mais ínfima classe e dos mais baixos sentimentos, compostos da ralé e da escoria, vasa que a paixão do lucro atirava e revolvia na capitania, punham uma nota de agitação feroz, davam á cidade um aspecto de porto de embarque despoliciado. Essa gente, depravada e violenta, enquanto esperava as monções, enchia os cantos escusos das tabernas lobregas, jogando dados e cartas, embriagando-se com bebidas alcóolicas;(WASHINGTON LUIS - Capitania de São Paulo).
Para controlar tamanha turba de desordeiros, desde o anuncio das descobertas do precioso metal, os chefes bandeirantes acostumados a manter o controle de seus contingentes de escravos da terra, negros e mamelucos procuraram organizar o trabalho nas minas e a vida no recém-formado arraial de mineração.
Elegeram como Guarda-mor Regente Pascoal Moreia Cabral, que impôs no arraial o padrão ordenador dos ambientes coloniais, exercendo a guarda dos ribeiros de ouro, autorizando novas escavações, determinando pesquisas e exames em busca de novas descobertas, controlando e ordenando os lotes para a mineração, como também punindo, expulsando e tirando direitos de exploração para os que desobedecem as regras estabelecidas, mandando pagar dívidas e recolhendo os impostos del Rey.
“No mesmo dia, mez e anno atraz [8 de Abril de 1719] nomeados elegeu o povo em vóz alta o capitão mór Paschoal Moreira Cabral por seu guarda-mór regente até a ordem do senhor General para poder guardar todos os ribeiros de ouro, socavar, examinar, fazer composições com os mineiros e botar bandeiras, tanto aurinas como aos inimigos barbaros, e visto elegerem ao dito lhe acatarão o respeito que poderá tirar autos contra aquelles que forem regulos, como é amotinador e aleves, que expulsará, e perderá todos os seus direitos e mandará pagar dividas” (Annais do sennado da Câmara de Cuiabá).
Em 1726 chegou ao porto de Cuiabá com cerca de 3 mil pessoas, o Capitão-General e Governador da Capitania de São Paulo, Rodrigo Cesar de Menezes, para dar início às práticas de colonização organizando as atividades administrativas do arraial transformado em Vila, dotando-a de um aparato civil, militar e eclesiástico. Foi criada então a Câmara de Cuiabá que absorveu a maior parte das responsabilidades do Guarda-mor Regente.
“A câmara do Cuiabá normatizava o espaço urbano, o fornecimento de gêneros alimentícios a moradores da vila, o exercício de “ofícios mecânicos” na vila e seu termo por meio de “exames de Mestres de Ofícios”, a saúde (contratando cirurgiões para atender as camadas mais pobres do “povo” e “seus escravos”, devido à “constelação do país”)” (ROSA).
“ [...} ordenando, para este fim e mais regimen politico, que elegesse doze colaterais, como titulo de deputados, que assistissem em cada bairro como escrivão e um meirinho, e todos juntos formassem com o guarda-mor um como senado para determinarem nos casos ocorrentes o que fosse para bem commmum”. (Annais do senado de Cuiabá).
Do aparato civil, constam os homens da governança, eleitos para as câmaras ocupando cargos de Juiz de Fora (presidente), Vereadores , Juízes Ordinários , Procurador , Almotacé (inspetor encarregado da exata aplicação dos pesos e medidas e da taxação e distribuição dos gêneros alimentícios), Alcaide (oficial de justiça), Escrivão, Porteiro e Carcereiro.
Haviam Também pessoas especializadas em exercer ofícios de mecânicos ou artesãos, como sapateiros, alfaiates, pedreiros, seleiros, carpinteiros, barbeiros, oleiros, pintores, caldeireiros e músicos, e outros tipos de prestação de serviços à comunidade.
Para o aparato militar, foram trazidos de Portugal, homens de confiança, com habilidades administrativas e militares para assegurar o domínio Luso na região e defesa do território, contra a ocupação espanhola. Dos militares constavam além do Capitão General, as patentes de General Mestre de Campo, capitaens, tenentes, alferes, ajudantes, furriéis, sargentos, cabos de esquadra e soldados.
Posteriormente foram criados os corpos militares como a Companhia de Dragões e o Corpo de Pedestres, para desempenharem tarefas na escolta das monções, nas diligências dos rios, servindo de pilotos e remeiros servindo como bons atiradores. Mais tarde foi criada uma companhia de voluntários, denominada Companhia Franca de Leais Cuiabanos, destinada principalmente ao serviço de remar canoas.
Na atualidade, no programa Rota das Monções foi criada a Trupe Monçoeira, composta por artistas visuais, artistas plásticos, cantores, poetas, contadores de história, teatrólogos, escritores, costureiras, estilistas, músicos e instrumentistas que em ocasiões especiais se apresentam em seminários, congressos, reuniões e palestras.
Foram confeccionadas indumentárias monçoeiras, reproduzindo as vestimentas dos séculos anteriores, utilizadas na rota das monçoes, nos arraias, vilas e povoados implantados ao longo do trajeto fluvial.
“Projeto Resgate, Promoção e Valorização do Patrimônio Cultural Sul-Mato-Grossense através da temática histórica da Rota das Monções no Rio-Cênico Rotas Monçoeiras e seu entorno /OSC Espaço Manancial/ Fundo Estadual de Defesa e de Reparação de Interesses Difusos Lesados – FUNLES”.
Rota das Monções – “Se o Brasil nasceu na Bahia, o Brasil cresceu por aqui”.
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