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Foto do escritorJ. F. de Paula F.

ROTA DAS MONÇÕES – DO BARCO A VAPOR AS CHALANAS PANTANEIRAS.



Na atualidade ao navegarmos pelas correntes águas do Taquari, quer seja em ligeiros barcos de alumínio utilizados para a pesca, ou em pequenas lanchas de motores possantes, ou mesmos em caiaques de fibra, movidos a remo, constantemente nos deparamos com as famosas chalanas pantaneiras, quer sejam barcos-hotéis, como a Duda do Pantanal, registrada na foto, quer sejam as chalanas de pescadores profissionais artesanais, utilizadas para transportar gelo e pescado e mesmo as chalanas de passageiros e cargas, que abastecem as populações residentes próximos as margens do rio no baixo Taquari.


Nos registros históricos muito se fala sobre os batelões e canoões, as canoas de carga e canoas de montaria, confeccionadas em tronco único de madeira, que eram utilizados nas monções que seguiam ou vinham das minas auríferas de Cuiabá.


Poucas pessoas tem conhecimento dos barcos a vapor que por aqui navegavam, na segunda metade dos anos 1800. Eram barcos a vapor, de guerra ou de comercio e translado de cargas e passageiros.


Ao passarmos pela Chalana Duda do Pantanal veio a lembrança, o vapor de guerra Alpha, que saindo da estação naval de Corumbá em 1862, aqui aportou com os militares designados a fundarem o povoado Beliago.


“Art, 1º - Partirá de Corumbá para o rio Taquari o vapor que o comandante da estação naval designar, transportando o capitão do Estado maior de 1ª classe empregado em comissão engenheiro Joaquim da Gama Lobo d’Eça e um destacamento de 12 praças, 2 cabos e 1 inferior, comandado por oficial, todos de tropa de linha.Art.2º - Este destacamento cujo comandante servirá interinamente de diretor do núcleo colonial denominado – Beliago – abaixo da corredeira...”(Palácio do Governo da Província de Mato Grosso em Cuiabá, 25 de novembro de 1862 – Herculano Ferreira Penna).


Com a construção da estrada de terra ligando as minas das regiões de Cuiabá e Goiás a cidade de São Paulo, a partir de 1738 declinaram-se as monções comerciais saindo de Araraitaguaba, sendo substituído o transporte de cargas e pessoas através de canoas, pelo transporte de cargas em animais e carretas. Prosseguiu por água, no entanto, o transporte de equipamentos pesados, principalmente as grandes peças de artilharia e equipamentos de combate destinados a guarnecerem a fronteira.


Interligando a região do Coxim, nos anos que se seguiram, foi feita uma bifurcação da estrada de Goiás que facilitava o acesso dessa região ao Piquiri e Santana do Paranaíba, melhorando o escoamento da produção e da comercialização.


“caminho do Piquiry segue-se até a capital da província de Mato Grosso; pelo outro vai-se ao Taquary, ao ponto de sua reunião com o Coxim” (TAUNAY).


Em 1856 houve um acordo entre o Brasil e o Paraguai, abrindo a navegação do rio Paraguai aos barcos brasileiros e de outras nacionalidades. As embarcações de maior calado podiam chegar até Corumbá e dalí, através de embarcações menores, as mercadorias eram redistribuídas para outras localidades e outros portos fluviais no interior da província de Mato Grosso.


A abertura da navegação pelo rio Paraguai estimulou novamente a navegação dos principais afluentes no pantanal, tornando os portos fluviais em importantes subpolos comerciais, interligados a Corumbá e consequentemente ao restante do império brasileiro, como também a Buenos Aires e Montevidéu. Uma vez chegados aos portos fluviais, as mercadorias prosseguiam por estradas chegando não só ao sudoeste, mas também a Goiás e a região de Santana do Paranaíba e ao interior de São Paulo.


A navegação pelo rio Taquari, avivou-se novamente, tornando o porto do rio Coxim, ao final da estrada de ligação Piquiri / Santana do Paranaíba, em importante subpolo de transito de mercadorias e pessoas.


“afluía à barra do Coxim grande número de carros da província de Goiás e do município de Santana do Paranaíba, carregados de café, toucinho, carnes, fumo, açúcar, rapaduras e outros gêneros, para serem vendidos ali mesmo ou em Corumbá, ou permutados por sal, ferro, vinho, louça e diversas outras mercadorias que, importadas pelos rios da Prata e Paraguai, podem chegar àquela província e município mais baratas do que por qualquer outra via” (Relatórios de Mato Grosso1863).


Com a dinamização do comercio através da utilização das vias fluviais, o governo imperial buscou impulsionar a navegação a vapor, fazendo grandes investimentos, não só em embarcações e portos, como também favorecendo a indústria da navegação.


“o governo imperial cuidou de “implantar a navegação para Mato Grosso, por sua própria conta e também estimulando a iniciativa privada, para a qual concede vultosos subsídios” (Brandão).


Desta forma a navegação pelos rios pantaneiros tomou grande impulso, com a substituição das antigas canoas feitas de um tronco só, por embarcações modernas como as propulsionadas a vapor, confeccionadas em metal. As embarcações de grande calado chegavam até Corumbá, e para navegar nos rios de pouca profundidade como o Cuiabá e o Taquari, foram confeccionado barcos a vapor de tamanho menor.


Foi então que buscando consolidar o porto do rio Coxim, em franco desenvolvimento, que em 1762, surgiu o projeto do governo da Província de Mato Grosso em criar o povoamento do Beliago, nas imediações da foz do rio Coxim, implantando um grande núcleo Colonial.


No projeto de criação do povoamento Beliago, além da construção da vila, com suas ruas planejadas, lotes padronizados, uma igreja, uma escola, o prédio da câmara municipal, a cadeia e o cemitério, havendo também a proposta de construir pontes, uma sobre o rio Coxim, ou sobre o rio Taquari e uma sobre o córrego da Fortaleza, caso necessário. Projetou-se também o prolongamento da estrada que vinha de Santana do Paranaíba.


“(...) como também à necessidade de prolongar-se até aí a estrada de carro, que do município de Santana do Parnaíba vem ter a barra do rio Coxim. Artigo 3º - No lugar que escolher medirá o engenheiro e demarcará a extensão de meia légua em quadro, ou a superfície equivalente, para assento da nova povoação e reservando os espaços necessários pra ruas, praças, edifícios e outras servidões públicas, dividirá o restante em lotes urbanos (...) para serem distribuídos pelo diretor interino do núcleo colonial aos povoadores nacionais e estrangeiros que os pretenderem(...) Artigo 4º - Os edifícios públicos de que trata o art. antecedente, são: uma igreja, uma casa para a Câmara Municipal, uma escola pública, um quartel, uma cadeia, uma praça de mercado e um cemitério (...) O engenheiro fará também (...) a planta e orçamento das pontes que vier construir, a saber, uma sobre o Taquari, no caso de passar pela margem direita deste rio a estrada de que trata o artigo 2º, ou duas sobre o ribeirão da Fortaleza e o rio Coxim quando passe pela margem esquerda. (Palácio do Governo da Província de Mato Grosso em Cuiabá, 25 de novembro de 1862 - Herculano Ferreira Penna).


Foi assim, que em 1862, chegou ao porto dessa região o vapor de guerra Alpha, trazendo os militares que iniciaram a construção do povoado do Beliago. Menos de dois anos depois, foi deflagrada a guerra com o Paraguai, sendo o povoado do Beliago, ainda em implantação totalmente destruído.


Mas uma vez, a proposta de implantação de um povoado onde ergue-se hoje a cidade de Coxim foi desarticulada, fracassando o projeto de implantação. Primeiro em 1729 quando a monção que trazia os futuros povoadores foi destroçada pelos Paiaguá, na foz do rio Cuiabá e segundo pela ação do exercito do Paraguai que queimou todas as instalações afugentando seus habitantes.


O Visconde de Taunay, quando por aqui esteve acampando com a força expedicionária cita o fato falando do projeto interrompido:


"As forças destinadas ás operações no districto de Miranda, achavão-se, desde o dia 20 de Dezembro do anno de 1865, acampadas na margem direita do rio Taquary, occupando, desde a confluencia d'este com o rio Coxim, uma extensão de mais de legoa.(...) Na realidade, o melhor possivel para a formação de uma colonia, como existe desde 1862 projecto, acha-se o ponto falto de todas as condições para ser considerado como militar, pronunciando-se a commissão de engenheiros contra a escolha d'elle, quando fôra consultada. (TAUNAY).


Rota das Monções: "Se o Brasil nasceu na Bahia, o Brasil cresceu por aqui.”


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