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PIRANHAS QUE CASTRAVAM HOMENS NAS MONÇÕES

Foto do escritor: J. F. de Paula F.J. F. de Paula F.

Quando em 1719 foi proclamada a descoberta da grande jazida de ouro na região do Coxipó, nos termos de Cuiabá, muitas pessoas saíram de diversas partes do Brasil, se aventurando pelos sertões inóspitos do centro-oeste, navegando em canoas, movidas a remos, na tentativa de alcançar o segundo El Dourado Brasileiro.



Monção descendo o rio Coxim


A jornada era longa e demorada, pois navegar até o destino em um percurso de mais de 3.600 quilômetros, sob o céu escaldante não era fácil. Navegando ainda nas águas da bacia do rio Paraná, como as do Tietê e Pardo, tinha-se a opção de ao entardecer, nas paradas para o pernoite, de se refrescar nas águas, aliviando o corpo do cansaço da jornada diária de algumas léguas.


Monçoeiros protegendo-se do sol e refrescando-se nas águas do rio Coxim.



Parada das monções para refrescante banho no córrego do Sucuri, afluente do rio Coxim.


Na bacia do rio Paraguai, ao chegarem a Camapuã, os incautos viajantes se deparavam com o terrível incômodo ao se banharem nas águas cristalinas da lagoa e do pequeno córrego por onde subiam as canoas. Era a superabundância de sanguessugas, vermes hematófagos, que sedentos de sangue, fixavam-se na pele do banhista, ou do canoeiro imprudente que entrava na água para retirar as cargas. A incidência era tanta que a lagoa passou a ser chamada de Lagoa da Sanguessuga, permanecendo o nome até os tempos atuais.


Sanguessuga nos pés (imagem colourbox.com)


Descendo o ribeirão Camapuã e o rio Coxim, os monçoeiros podiam ainda banhar-se nas águas correntes e encachoeiradas, principalmente nos afluentes que jorrando e correndo por entre as pedras lançavam suas oxigenadas e cristalinas águas sobre o leito do caudaloso rio.


Água cristalina e refrescante : Cascata Monçoeira- margens do rio Coxim. Ponto de reabastecimento de água das expedições no ciclo das monções. Parada obrigatória nas monções da atualidade.(foto: expedição eco-monçoeira 2022).


Monçoeiros em banho de cachoeira. (1º seminário Internacional do folclore monçoeiro - 2016)


Passada a última cachoeira do percurso na junção do rio Coxim com o Taquari (hoje área urbana da cidade de Coxim), a situação mudava, pois ao penetrar no pantanal, além do calor sufocante que aumentava, em razão do grande espelho d’água refletindo a luz do sol, havia a presença dos peixes predadores e devoradores de carne vermelha, as terríveis piranhas.


Encontro das águas do rio Coxim com o Taquari


Tomar banho nos rios do pantanal havia sempre o arrisco de ser atacado pelos vorazes peixes, além de que a pesca era mais trabalhosa pois as piranhas, como se diz hoje no linguajar dos ribeirinhos, “toravam” (cortavam) os anzóis com os afiadíssimos dentes.


"Voltava a piscosidade no Taquary, sendo considerável no Paraguai, Porrudos e Cuiabá, (...) Mas neste três rios era um desgosto pescar-se por causa das piranhas. (TAUNAY).


“ A isto se juntava um calor excessivo e chuvas continuadas. Nem podiam ter o refrigério de se banharem no rio (CONDE DE AZAMBUJA 1751 – in Relatos Monçoeiros).




Os tripulantes das embarcações monçoeiras na tentativa de evitar a perda de anzóis, objeto de grande valor naqueles sertões, logo buscaram uma alternativa para neutralizar a ação das piranhas. Encastoavam os anzóis com arame, distanciando a linha, da boca do peixe capturado. Não sabemos se a invenção do encastor, muito utilizado hoje na pesca, vem daquela época, ou se sua utilização remonta a outros tempos, pois a arqueologia aponta para a pesca nos rios do pantanal a mais de oito mil anos atrás.


“Nos mais rios, passado Camapuã, há muito peixe, principalmente no rio Taquari, Paraguai, Porrudos e no Rio Cuiabá. Mas nos rios Paraguai, Porrudos, e Cuiabá, antes de chegar nas primeiras Povoações ou roças, é um desgosto pescar, porque a cada passo estavam a se perder anzóis com suas linhas, não obstante aqueles estarem atracados com arames, e depois de meio palmo deste continua a linha. (ORDONHES 1785).


Anzol moderno encastoado com arame; anzóis primitivos de 10.000 anos atrás (Reprodução: Jordan River Dureijat)


O historiador Afonso d’Escragnolle TAUNAY, ao comentar sobre o ciclo das monções cuiabanas afirma que se os rios a partir do Taquari até o Cuiabá fossem encachoeirados, o movimento migratório das monções teria sido paralisado pelas piranhas, uma vez que os tripulantes das embarcações tinham a necessidade de entrar na água, descalços para transporem as cachoeira, ficando a mercê dos terríveis e vorazes peixes.


“Se os rios da bacia do Paraguai desde o Taquari até o Cuiabá fossem encachoeirados, as piranhas teriam paralisado o curso das monções. Não haveria mareante que ousasse atirar-se a água para empurrar as canoas e trabalhar na sirga.” (TAUNAY).



Guia prático das monções transpondo a cachoeira Travessão do Jaú no rio Coxim (foto: Cid Nogueira)


Passageiros da moção observam os guias práticos transpondo os barcos através de cordas em uma cachoeira do rio Coxim.


Nos escritos de época, o Juiz de Fora da Vila real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, Diogo Toledo de Lara e Ordonhes, considerado por alguns, como o primeiro naturalista Paulista, dá a descrição do peixe piranha, quando navega pelos rios das monções.


“E a razão é porque há uns peixes do tamanho de um palmo, arredondados, que parecem com os gorazes, porém mais chatos e largos, com uma grande boca, e dentes tão cortantes, e agudos que seja o que for a que os tais peixes se agarram, infalivelmente, arrancam o pedaço: chamam-se pela língua da terra Piranhas, e pela Portuguesa Tisoura (sic). Cortam os anzóis com facilidade, principalmente se sentem alguma cousa vermelha ou sangue. (ORDONHES 1785).


Um fato histórico interessante é que o letrado juiz cita o nome do peixe na língua geral paulista (original lingua brasilica), como “piranha” valorizando a cultura nativa e ao mesmo tempo cita o nome na língua portuguesa, com “tisoura (sic)” não se opondo a corrente lusa da época, em confirmar o território brasileiro como puramente português, a começar pelo idioma falado e escrito de seus habitantes. Não é o caso do futuro vice-rei do Brasil, conde de Azambuja, Capitão-general e governador, legítimo português, imbuído de transformar o quase continente luso-brasileiro em um imenso Portugal. Azambuja ao descrever as piranhas cita apenas o nome português “tesouras”. Ele só usava os topônimos da lingua brasilica quando não havia nomes correspondentes na língua portuguesa, chegando algumas vezes a aportuguesar algumas expressões da língua geral.


“porque do Paraguay para estas minas há duas castas de peixes que o não consentem, Ao primeiro chamam tesouras; o seu tamanho é de um palmo, mas tem uns dentes tão agudos e fortes, que os ví muitas vezes cortar anzóis capazes de sustentar peixes muito maiores. (CONDE DE AZAMBUJA 1751 – in Relatos Monçoeiros).


Chico Buarque de forma sarcástica traduz para a arte, o sentimento que imperava na ocasião:

“Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal.

Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!”

(Chico Buarque de Holanda – Fado tropical).


Embora os tripulantes ou mareantes com dizia Taunay, soubessem do perigo em tomar banho nas águas pantaneiras, era difícil para os passageiros suportar o calor escaldante do sol ao meio dia, sem dar um mergulho nas águas dos rios, ainda mais que os paulistas descendentes de nativos tinham por hábito tomar banhos algumas vezes por dia. Os conselhos dos velhos marinheiros nada valia, pois vez por outra, lá estavam alguns a darem um mergulho, aproveitando para passar uma agua e um sabão na rota roupa de viagem, expondo-se dessa forma a ação das piranhas.

"Pouco tempo basta que apanhem um homem nágua (sic)para o deixarem em miserável estado.” (CONDE DE AZAMBUJA 1751 – in Relatos Monçoeiros).



Mordida de piranha (foto: https://www.caceresnoticias.com.br/)


Dizem que os portugueses tinham hábitos diferentes dos filhos de lusos-paulistas descendentes de amerindios. Na Europa na época do frio, tomava-se banho uma vez por semana, dando ensejo ao sarcástico ditado popular brasileiro - “sábado é dia de tomar banho”. Veja por exemplo o caso do Capitão General que depois de embarcar em Araraitaguaba, no inicio do mês de agosto, só veio ficar pelado em Camapuã dois meses depois.


“Neste sítio (Camapuã) me despi pela primeira vez, (o que até então não tinha feito desde o primeiro dia de viagem)(CONDE DE AZAMBUJA 1751 – in Relatos Monçoeiros).


Monçoeiro despreocupado refrescando-se nas águas de um afluente do rio Coxim.


Banho medieval europeu e banho de viajante em cascata monçoeira - Rio Coxim.


Parece não ser muito agradável, viajar sob o sol escaldante, confinado em uma embarcação, atrás de um cidadão que não tomava banho a dias, principalmente quando o vento soprava ao contrário, mesmo porque o desodorante só foi criado trinta e poucos anos depois daquela data.



Mas como resolver o problema da sudorese excessiva, sendo arriscado tomar banho em um rio cheio de piranhas? O relatório do Capitão (futuro marechal) Cândido Mariano Rondon sobre a construção da linha telegráfica interligando Cuiabá a Coxim, nos idos de 1900, ao registrar os topônimos da época, referentes ao rio Taquari, grafa em seu mapa hidrográfico, um trecho retilíneo do rio, bem abaixo da cidade de Coxim. que mantinha o nome antigo de “Estirão-tira-catinga”, que trás indícios da solução encontrada pelo remadores dos batelões, para tomarem um banho precário sem ter que entrar na água.


No longo trecho do rio, sem curvas acentuadas, com velocidade baixa de movimento, não havia a necessidade frenética e rítmica das remadas orquestradas pelo bater do calcanhar do proeiro na embarcação. Bastava apenas o varejão do proeiro e o remo longo do piloteiro, para a embarcação deslizar suavemente pela planície pantaneira. Era o momento em que os remadores suados, lavavam seus troncos, braços e axilas, de dentro do barco em movimento, sem ter que descer às águas, imunes dessa forma, ao ataque das temidas piranhas (famoso banho tcheco, no populacho).


Parada para da expedição para banho no córrego do Sucuri - Afluente do rio Coxim.


Era difícil para os guias práticos fazer com que os passageiros atendessem a recomendação de não entrarem na água, principalmente em comboios com mais de 500 pessoas. Se até o rio Coxim era frequente os pontos de banho, porque agora não podiam mais? Sempre haviam os teimosos, que de forma inconsequente entrava na água a banhar, sofrendo o ataque dos famintos peixes, perdendo pedaços de seus membros e mesmo em algum caso de teimosia perder a vida em situação adversa.



Foi o caso do famoso desenhista francês Aimé-Adrian Taunay, que viajando pelos rios das monções, participando da expedição do Barão de LANGSDORFF, mesmo sobre recomendação contraria, resolveu atravessar o rio Guaporé, morrendo tragicamente na correnteza. Muitos monçoeiros, de forma despretensiosa, ignorando a fama das piranhas, entravam na água para se banhar, sendo atacados pelos terríveis peixes, perdendo pedaços do corpo, como dedos dos pés e mãos. Aqueles que arriscando lavar suas roupas, entrando nú, na água, acabavam sendo mutilados sofrendo castração como registra o naturalista paulista.


“Ninguém se pode lavar, por que tiram pedaços de carne e já tem chegado a castrar alguns sujeitos, (ORDONHES 1785).


Três momentos históricos da mutilação: Castrando eunucos no Egito antigo, a circuncisão judaica e a castração monçoeira no pantanal.


As piranhas, ou como chamavam os Lusos, as tesouras do Pantanal e da Amazônia ficaram famosas mundo afora, recebendo nomes alarmantes colocando-as no pedestal da fama maldita. O grande historiador Afonso Taunay, ao relatar as ações das piranhas da planície pantaneira deu-lhes o epíteto de “peixes-diabos”.


“ Os enormes cardumes de piranhas do Paraguai e seus afluentes e principalmente no Pantanal impressionavam (...) Impediam os navegantes de se refrescar tomando banhos nos rios. Que mandíbulas terríveis as destes “peixes-diabos!” (TAUNAY).


Peixe-diabo marinho e peixe-diabo de Taunay ( Imagens: www.teamorca.org ; www.megacurioso.com.br )


A fama da piranha brasileira de atacar banhistas nus correu mundo afora quando alguns parentes seu, da família Serrasalmidae, levados para as regiões de Papua- Nova Guiné, foram introduzidos em um ambiente aquático pobre em alimentação, mas com bastante nativos que tinham o hábito de pescar e nadar pelados. Os representantes dessa família de peixes foram logo chamados de peixe “morde-testículos” ou peixe cortador-de-bolas (testicle-eating fish).


"Peixe apelidado de cortador de bolas devido ao seu apetite inquietante por testículos humanos." (www.medicaldaily.com ).


Recentemente alguns peixes morde-testículos foram relatados na Dinamarca, sendo que a partir do momento em que a noticia se espalhou, os técnicos do Museu de História Natural da Dinamarca vieram a publico e declararam:


“Este animal não é perigoso, no entanto, houve incidente na Papua Nova Guiné em que alguns homens tiveram os testículos arrancados. Os animais mordem porque estão com fome e os testículos assentam bem na boca” (Henrick Carl).


"Os nadadores do sexo masculino devem manter as calças para o caso de haver mais pacus nas águas frias do Báltico” (Peter Rask Moller).


Este aviso, se tivesse sido dado no ciclo das monções, com certeza esse tipo de mutilação tivesse sido evitado. Muitos pretendentes as minas teriam chegados inteiros as minas de Cuiabá. Até o presente momento não se encontrou nenhum registro especifico relatando a morte de monçoeiros pelo ataque de piranhas. No entanto foram, ao longo do caminho fluvial, encontrados muitos mortos, alguns em ranchos e outros dentro de redes. Era pouca a chance de alguém sobreviver, sendo castrado por piranhas, devido a infecção advinda da mutilação. Desses inúmeros mortos encontrados em redes, possivelmente alguns tiveram como causa de morte, ferimentos provocados por mutilação de piranhas infeccionados ou gangrenados.


"Correndo o anno de 1722 chegou monção de povoado com maior destroço do que a passada, morrendo innumeraveis pessoas a fome e peste e comidas das onças, cujos corpos eram achados pelos que vinham posteriormente, assim como as fazendas podres, as canôas largadas pelas margens dos rios, e outros mortos dentro dos ranchos nas mesmas redes em que se haviam deitado."(BARBOSA DE SÁ)



Pouso da Monção no Tietê - Zilda Pereira. Vê-se nos detalhes, o rancho e as redes de dormir.


Outro episódio que tornaram as piranhas famosas no imaginário popular é o ditado tupiniquim “boi-de-piranha”. Diz-se que ao atravessar uma boiada por rios onde abundam as piranhas, os condutores do gado, fazem sangrar uma vaca magra e a lançam nas águas. O movimento desesperado do animal e o sangue jorrando de seu corpo atrai um grande numero de piranhas, ávidas em devora-la. Enquanto isso, o restante da boiada passa incólumes distante desse ponto, livre da perseguição dos peixes que encontram-se concentrados a devorar o animal usado como isca.


Em 1913, as piranhas novamente ganharam o noticiário mundial, quando o presidente dos Estados Unidos, vindo em uma expedição ao Brasil, lançou seu livro Through the Brazilian Wilderness (Pelas Selvas Brasileiras), relatando sua experiência com as piranhas do Brasil.

"Elas são os peixes mais ferozes do mundo. Mesmo os peixes mais formidáveis, os tubarões ou as barracudas, costumam atacar coisas menores do que eles. Mas as piranhas atacam habitualmente coisas muito maiores do que elas mesmas. Eles podem arrancar um dedo de uma mão que descuidadamente passou pela água; elas mutilam nadadores; despedaçam e devoram qualquer homem ou animal ferido; o sangue na água excita-as à loucura. Elas rasgam aves selvagens feridas em pedaços; e mordem as caudas dos peixes grandes quando eles ficam exaustos ao lutar depois de serem fisgados".


Até nos dias de hoje, quer seja na Amazônia ou no Pantanal, em locais onde há grandes concentrações de piranha, usa-se o ardil de se lançar a água, um pedaço de carne vermelha para se observar o “reboliço” das piranhas devorando a carne em poucos minutos. Ordonhes relatou este fato, quando seguia de São Paulo para assumir o cargo de juiz de fora em Cuiabá.

“Há uma incrível quantidade (de piranhas), e causa divertimento, ao mesmo tempo que me causava horror ver meter algum quarto, ou pedaço de carne de capivara, ou outro qualquer e ver em um instante saírem agarrados na carne bastantes, a darem empuxões; e são tão vorazes, que por experiência que fiz com uma capivara, que era grande como um porco medíocre, em poucos minutos escarnavam de forma os ossos, que causou-me admiração, fazendo um ruído incrível junto a canoa, onde por uma perna eu tinha mandado atar a capivara. (ORDONHES 1785).


A tática usada por Ordonhes e seus camaradas mareantes, de atrair piranhas com pedaços de carne, é comum em diversos locais, não só do pantanal como da Amazônia. Muitas vezes, os pescadores não tendo carne para usar como isca, colocam qualquer trapo vermelho, conseguindo assim capturar o primeiro exemplar, que tendo a carne fatiada serve de isca para dar continuidade a pescaria.


Outras vezes, moradores ribeirinhos usando pedaços de carne, sebo, gordura ou pele de animal, agitam os mesmos na agua atraindo cardumes de piranhas, que com voracidades fixam os dentes com tanta gana que são puxados para fora, caindo em uma vasilha previamente preparada para captura-los. A pesca nesse caso é feita sem o auxilio de anzol.


Pescando piranhas sem anzol.


Recentemente (novembro de 2022) os jornais da cidade de Cáceres noticiaram o ataque de piranhas em banhistas que frequentavam uma praia no rio Paraguai, próximo a área urbana da cidade. Dois banhistas foram atacados, tendo ferimentos nos pés e dedos do pé. Correu também a noticia de que em outra ocasião, outras pessoas sofreram ferimentos ocasionados pelos peixes.


Ferimentos provocados por mordidas de piranha.


Afora casos excepcionais, na atualidade os moradores ribeirinhos do pantanal, habituaram-se com a presença das piranhas, vivendo de forma a evitar acidentes com os peixes, deixando de frequentar locais preferidos pelos mesmos.


O conhecimento e a vivencia dos ribeirinhos, pescadores profissionais e guias práticos identificam os pontos propícios para o banho no rio Taquari, evitando-se os acidentes com piranhas e arraias.


Monçoeiros da atualidade refrescando-se na entrada da Baia do Barranco Vermelho - rio Taquari.


Nas áreas próximas as povoações, a carne de piranha constitui-se em uma excelente fonte de alimentação, embora a superabundância de outras espécies, consideradas mais nobres, tenham a preferencia popular. Tanto em Mato Grosso, quanto em Mato Grosso do Sul (outrora um mato só), o caldo feito com carne de piranha desponta como rica iguaria, originária do pantanal.



Pescando piranhas no pantanal dos Paiaguás.


Aimé-Adrien Taunay em 1826 quando passou pelo rio Taquari, na monção do Barão de Lagnsdorf, registrou através de uma aquarela, um espécime de piranha pescada por sua equipe .



Foram catalogadas até hoje no pantanal quatro espécies de piranhas, que recebem o nome popular de piranha, piranha amarela, piranha vermelho, pirambeba, catirina ou catarina, variando estes nomes de região para região. Recentemente (novembro 2022) foi lançado pelo governo do Estado de Mato Grosso do Sul o livro Guia ilustrado dos peixes do Pantanal e entorno, de autoria dos pesquisadores Heriberto Gimenes Júnior e Ricardo Rech. O livro ilustrado dá detalhes técnicos para a diferenciação de cada uma das mais de 380 espécies de peixes descritas para o pantanal, assim como as piranhas existentes na grande planície pantaneira.

Piranha Catirina

Foto: Guia ilustrado dos peixes do Pantanal e entorno, (Heriberto Gimenes Júnior e Ricardo Rech)


A piranha catirina é encontrada em rios, lagoas, bahias, curixos, vazantes e sangradouros, associados as plantas aquáticas. Uma de suas características principais são a mandíbula inferior proeminente e a nadadeira dorsal alongada.


Piranha

Foto: Guia ilustrado dos peixes do Pantanal e entorno, (Heriberto Gimenes Júnior e Ricardo Rech)


Conhecida simplesmente como piranha ou piranha da barriga amarela, é encontrada em grandes cardumes, vivendo nos grandes rios do Pantanal, sendo que os adultos maiores preferem as partes mais fundas ou calha dos rios, enquanto os jovens escondem-se entre a vegetação marginal.


Piranha amarela

Foto: Guia ilustrado dos peixes do Pantanal e entorno, (Heriberto Gimenes Júnior e Ricardo Rech)


A piranha amarela é encontrada em ambientes de agua parada ou de pouco movimento, em lagoas, baias, curixos ou vazantes, suportando temperaturas elevadas e baixa concentração de oxigênio. Procuram a proteção das plantas aquáticas flutuantes onde encontram refugio contra predadores e alimento para seus filhotes. Os adultos também podem ser encontrados em águas abertas.


Piranha Catirina

Foto: Guia ilustrado dos peixes do Pantanal e entorno, (Heriberto Gimenes Júnior e Ricardo Rech)


A piranha catirina também chamada por ribeirinhos de catarina ou pirambeba é encontrada ao longo dos rios enquanto os jovens preferem as águas mais lentas de baias, lagos, lagos, curixos, sangradouros e vazantes de águas lentas, buscando abrigo em meio a vegetação aquática.


O juiz de fora Ordonhes, em sua experiência com as piranhas devorando em poucos minutos um quarto de capivara amarrado junto ao barco, admirou-se não só da extrema rapidez em que a carne era devorada, ficando a penas os ossos, mas também pelo barulho estranho que as piranhas faziam ao disputar um pedaço de carne. Os pantaneiros e também os mareantes monçoeiros sabiam que as piranhas quando capturadas emitem um grunhido rouco, como um rosnado de um cão. Por isso corre o ditado popular de que piranhas “mordem e latem”.


Recentemente pesquisadores da Bélgica publicaram um artigo científico sobre a forma de comunicação das piranhas e descobriram que as mesmas emitem três tipos distintos de vocalização em diferentes situações. O primeiro em forma de grasnado suave, quando as piranhas mordiam umas as outras, o segundo era usado quando os peixes perseguia uns aos outros, e o terceiro semelhante a um latido era usado quando os peixes mediam forças disputando a alimentação.


No caso de Ordonhes, era o terceiro som, relatado pelos pesquisadores, em função da disputa por um “naco” de carne. Como a quantidade de piranhas era grande, e a isca estando amarrada junto a lateral do barco de madeira, a parede da embarcação funcionou como pequena caixa de amplificação aumentando ainda mais o volume dos grunhidos ou “latidos” das piranhas, como ocorre atualmente quando se coloca o peixe chamado armal ou abotoado, no fundo dos barcos de alumínio.


“e são tão vorazes, que por experiência que fiz com uma capivara, que era grande como um porco medíocre, em poucos minutos escarnavam de forma os ossos, que causou-me admiração, fazendo um ruído incrível junto a canoa, onde por uma perna eu tinha mandado atar a capivara. (ORDONHES 1785).


Assim era a vida dos pretendentes as minas de Cuiabá, navegando pelo mar dos Xarayés: saboreando piranhas assadas, bebendo caldos de piranha, ouvindo “grunhidos” e “rosnados” de piranhas capturadas e gritos e lamentos de dor e desespero de monçoeiros mutilados.


Fica a sábia recomendação do pesquisador belga: “Os nadadores do sexo masculino devem manter as calças para o caso de haver mais pacus nas águas”.


“Projeto Resgate, Promoção e Valorização do Patrimônio Cultural da Rota das Monções. Fundo Estadual de Defesa e de Reparação de Interesses Difusos Lesados – FUNLES / OSC Espaço Manancial/ Salt Media”.





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