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OS TIPOS DE COURO UTILIZADOS PARA A CONFECÇÃO DE CALÇADOS NA ÉPOCA DAS MONÇÕES.

Foto do escritor: J. F. de Paula F.J. F. de Paula F.


No início da ocupação do planalto de Piratininga (São Paulo) pelos portugueses, animais domésticos como a vaca e o porco doméstico eram raros e alcançavam preços altos no comercio local. Os paulistas rapidamente se adaptaram ao costume dos nativos e utilizavam o couro dos animais selvagens, como veados, cervos, queixadas e caititus para fabricarem utensílios e vestimentas.


Aumentado os rebanhos de porcos e de gado vacum, além de utilizarem da carne e da gordura dos porcos e da carne de boi, para a alimentação, aproveitavam também o couro desses animais, que uma vez curtidos eram excelentes produtos para a confecção de calçados.


Os moradores do povoado (vila São Paulo de Piratininga) podiam escolher, de acordo com suas posses, que tipo de couro queriam para seus sapatos, tendo a opção de couro de veado, couro de porco ou couro de vaca.


À época, eram poucos os sapateiros existentes no povoado, e não havendo regras para o controle de preços, cada sapateiro cobrava o preço que queria e que achava conveniente. Diante da insatisfação da população o Senado da Câmara, em 1583, a pedido do procurador da Vila, nomeou um juiz do oficio de sapateiros, estabelecendo as regras do oficio, o exame do profissional e o estabelecimento de preços máximos a serem cobrados na venda dos sapatos.


Neste período, o sistema monetário do Brasil colônia era o estabelecido pela União Ibérica (Portugal e Espanha), sendo que a partir da Restauração do império Português, a partir de 1654 as moedas portuguesas passaram a circular no Brasil. Não haviam naquele tempo muitas moedas em circulação, sendo o ouro em pó, a grande referencia para a comercialização de mercadorias.


O peso do ouro era medido em onças, sendo uma unidade comum e corrente, a oitava de uma onça de ouro, que correspondia a 3,585 g, com equivalencia de 1.200 réis (moeda corrente). Portanto 1 réis equivaleria a 0,0029875 gramas de ouro.

1 oitava de ouro (3,585 gramas) 1.200 réis

1/2 oitava de ouro (1,7925 gramas) 600 réis

1/4 oitava de ouro (0,89625 gramas) 300 réis

1/32 oitava de ouro ( 0,112 g) 1 vintém 37,5 réis


Para se ter noção dos valores cobrados a época, a partir da tabela de preços estabelecida pelo juiz de oficio de sapateiros e o equivalente em gramas de ouro, levando em consideração o preço da grama de ouro nos dias atuais (final de agosto de 2022), elaboramos a tabela abaixo.

Artigo ($) Réis ouro (R$) Real

Bota nova de couro de veado 480 réis 1,434 g R$ 410,86

Bota nova de couro de porco 480 réis 1,434 g R$ 410,86

Bota nova de couro de vaca (engraxada) 480 réis 1,434 g R$ 410,86

Sapato masculino de duas solas 150 réis 0,448 g R$ 128,39

Sapata de mulher, quer de porco ou de veado 150 réis 0,448 g R$ 128,39

Chinelas de mulher, de três pontos e seis 100 réis 0,298 g R$ 85,59

Chinela de homem, sendo de sola, de vaca,

de porco, de veado 150 réis 0,448 g R$ 128,39


Estes preços referem-se aos artigos produzidos na vila, alcançando os produtos de luxo, importados da Europa, valores muito superiores ao taxado pelo governo local, principalmente os produzidos pelos artesãos franceses, pois o pouco vestuário vindo de Paris eram disputados pela nobreza da localidade.


Os valores praticados nas minas de ouro de Cuiabá, em razão do arriscado transporte, triplicavam ou até quadriplicavam os preços da mercadoria, pois além das perdas em canoas naufragadas nas cachoeiras, nos assaltos dos povos nativos, nos estragos ocasionados pelas chuvas, havia ainda o pesado imposto cobrado na chegada da mercadoria, antes mesmo de alcançar o porto geral de Cuiabá.


“1.727 - Fez o General Logo ao Capitam mor Jacinto Barboza Lopes Provedor da real Fazenda, entrou este a cobrar seis oitavas de ouro por cabeça [21,51 gramas de ouro], fosse a pessoa que fosse que herão os quintos que se devião a El Rey. As entradas das fazendas vindas de povoado a oito oitavas por cada fardo [26,68 gramas de ouro], a cinco pelas cargas molhadas [17,62 gramas de ouro], e a quatro por negros ou Índios [14,34 gramas de ouro] que de todos se pagavão sem exceção ( Annais do sennado da Câmara de Cuiabá).


Na rota das monções nos dias atuais, são comuns os chinelos e sapatos fabricados com materiais sintéticos, as botinas e botas de couro de vaca, destacando-se nos preços, os calçados produzidos com couro de avestruz oriundos do município de São Gabriel do Oeste, as botas e sapatos fabricados com couro de jacaré oriundos do criatório de Corumbá e as aplicações de couro de peixe, curtidos e coloridos pelas mulheres pescadoras de Corumbá. Estes artigos exóticos relembram os calçados importados da Europa, quando da colonização e expansão do território brasileiro.


Conheça a historia do Brasil navegando pela Rota das Monções.


“Projeto Resgate, Promoção e Valorização do Patrimônio Cultural da Rota das Monções. Fundo Estadual de Defesa e de Reparação de Interesses Difusos Lesados – FUNLES MS / OSC Espaço Manancial/ Salt Media”.


Rota das Monções: "Se o Brasil nasceu na Bahia, o Brasil cresceu por aqui.”


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