No século 18 viajar de São Paulo para as minas de ouro de Cuiabá, gastava-se de três a sete meses. Para empreender a viagem, era necessário estocar, armazenar e transportar o alimento a ser consumido durante a jornada, uma vez que no percurso, eram poucas as povoações que ofereciam alimentos.
Poucas eram as roças ou plantações encontradas nos sertões. As tripulações monçoeiras e os passageiros das embarcações valiam-se dos peixes pescados e dos animais selvagens caçados durante a navegação.
Ao saírem do rio Coxim, entrando no pantanal através do rio Taquari, os viajantes admiravam-se da abundancia, não só de peixes, como também da variedade de animais, que frequentavam os bancos de areia, as inúmeras e extensas praias e ilhas fluviais presentes ao longo do percurso do rio Taquari, fruto do enorme assoreamento característico a este imenso rio, desde os primórdios.
A abundancia de caça tornava os caçadores seletivos, procurando sempre as melhores carnes, que para saborearem com avidez. Os enormes patos selvagens do pantanal, encontrados com facilidade nos bancos de areia, eram preferidos em razão de sua saborosa e tenra carne.
“ A 28 de tarde entrei em Tacuari, acabando de passar a última cachoeira, que o é também de todo o caminho. É este rio bastantemente largo, e como dá muitas voltas, parece aos que navegam que estão sempre em baias fechadas. Quando leva pouca água, deixa carias praias descobertas, as quais se enchem de caça, principalmente patos de extraordinária grandeza, e outros mais pequenos, a que chamam marrecos.” (Dom Antônio Rolim de Moura – Conde e Azambuja – 1751).
Ao longo de mais de uma centena de anos em que perduraram as navegações pelos rios das monções cuiabanas, vários foram os relatos e diários que enalteciam a abundancia de caça nas regiões do pantanal do Taquari. Alguns escritores, com maior riqueza de detalhes descreveram a atividade venatória de abate aos patos, comum aos navegantes de outrora.
“Das aquáticas a maior abundancia é dos patos que são como um grande e gordo perú, e excelente gosto, predicado com que se distinguem das demais aves aquáticas” (Dr. Diogo de Toledo Lara e Ordonhes – 1785)
“São ariscos velozes no vôo, e duros para morrerem, porém assim mesmo ficavam muitos e era um divertimento ver que ás vezes para um só pato que vinha voando disparavam 25 e 26 tiros, e quase sempre iam a salvo.” (ORDONHES – 1785)
Na atualidade a legislação proibitiva e a fiscalização coibitiva inibe o abate de patos, de aves ou de qualquer outros animais silvestres. Na parte baixa do rio Coxim, no médio e baixo Taquari são ainda abundantes os patos selvagens em meio as abundantes aves paludícolas.
Em sítios e fazendas ribeirinhas onde há criação de galinhas e patos domésticos é comum ver a presença de patos selvagens que veem se alimentar nos quintais, muitas vezes cruzando com os domésticos e produzindo numerosa prole.
Como é comum, em outras partes do território brasileiro, os ovos de patos são muito apreciados e usados na alimentação de crianças e idosos, como agente fortificante e revigorante (lembra-se do ovo de pato com biotômico Fontoura, ministrado pela vovó?).
“Projeto Resgate, Promoção e Valorização do Patrimônio Cultural Sul-Mato-Grossense através da temática histórica da Rota das Monções no Rio-Cênico Rotas Monçoeiras e seu entorno /OSC Espaço Manancial/ Fundo Estadual de Defesa e de Reparação de Interesses Difusos Lesados – FUNLES”.
Rota das Monções – “Se o Brasil nasceu na Bahia, o Brasil cresceu por aqui”.
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