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O MONÇOEIRO QUE FOI SALVO DA MORTE, POR UM CURIOSO TAMANDUÁ


Fotos: Guilherme/ Salt media: Monçoeiro navegando na região do São Domingos (rio Coxim)/ Tamanduá- bandeira APA Sete Quedas.


Longa e penosa era a jornada de Porto Feliz as minas de Cuiabá, principalmente antes da descoberta do trecho Camapuã, rio Coxim e Taquari.


Em 1722, ao chegar a noticia da descoberta do ouro em Cuiabá, centenas de aventureiros saíram desesperados em direção ao segundo eldorado brasileiro. Pessoas totalmente despreparadas para navegarem pelos sertões inóspitos, sem embarcações adequadas, pouca alimentação, sem o conhecimento de captura de peixes e caça e a prática de navegação em rios encachoeirados e cheios de obstáculos.


A principio, ao subirem o rio Pardo, seguiam pelo rio Anhanduy descendo pelo rio Aquidauana e subindo pelo rio Paraguai. Neste fúnebre caminho centenas e centenas de pessoas morreram enquanto outros poucos, em estado lastimável e de penúria, conseguiram chegar ás minas.


O cronista Barbosa de Sá relata a história de uma monção que em 1722 seguia por este escabroso caminho. Era um jovem europeu pobre, que havia conseguido uma vaga na monção de um rico cidadão que montara o comboio para as minas. A condição para ser aceito na tripulação era ter obstinação para remar na longa viagem e gozar de boa saúde. A princípio tudo corria bem, até que o jovem, assolado pela fome, consumido pelos mosquitos e fustigado pelas intempéries adoeceu, perdendo em poucos dias a condição de remador.


A situação já era bastante critica entre os navegantes, tendo ainda que levar a “carga inútil do remador doente” e dividir a parca refeição com o moribundo, fez com que o patrão resolvesse abandonar o pobre João Lopes em um barranco, para que alí pudesse passar seus últimos dias de vida.


O jovem quase desfalecido, mal teve forças para juntar alguns galhos para a fogueira e entre eles um cupinzeiro que usou para queimar e espantar os pernilongos. Passou a noite dormindo na areia do barranco, quando de manhã foi acordado pela proximidade de um enorme tamanduá-bandeira que atraído pelo cupinzeiro se aproximou do jovem moribundo. O jovem talvez movido pelo medo do animal desferiu certeira paulada no focinho e cabeça do tamanduá, matando-o imediatamente.


O enorme tamanduá rendeu muita carne, que assada e seca ao sol, alimentou o jovem por sete ou oito dias, quando apareceu uma canoa vinda de São Paulo. O pobre João pediu logo uma carona na embarcação, mas foi recusado, pois havia falta de alimento para os tripulantes.


“Passados sete ou oito dias apareceu uma canoa vindo de Povoado. O pedido de ajuda recebeu recusa pois faltavam alimentos aos viajantes” (BARBOSA DE SÁ).


A carne seca e assada do tamanduá serviu-lhe de passagem para com eles navegarem para Cuiabá. A canoa com João Lopes seguiu viagem, quando após alguns dias encontraram as canoas do antigo patrão, abandonadas nas margens, com grande parte da tripulação morta inclusive o patrão, sobrevivendo apenas alguns negros remadores.


“Alguns negros sobreviveram; a maioria morreu, dentre eles seu patrão” (BARBOSA DE SÁ).


Nas monções da atualidade, embora se percorram longas distancias, não há mais a necessidade de forte remadores, pois as embarcações de alumínio são propulsionadas a motores de popa. A boa alimentação nunca falta, pois o turismo de base comunitária proporciona farta e deliciosa refeição caipira, feitas quase sempre em fogão a lenha, utilizando-se de gêneros alimentícios produzidos a fundo de quintal.


Tamanduás, capivaras, antas e outros animais silvestres, fotografados pelos turistas, trazem benefícios aos ribeirinhos, que os preferem vivos e mansos para o deleite dos visitantes.


“Projeto Resgate, Promoção e Valorização do Patrimônio Cultural da Rota das Monções. Fundo Estadual de Defesa e de Reparação de Interesses Difusos Lesados – FUNLES MS / OSC Espaço Manancial/ Salt Media”.


Rota das Monções: "Se o Brasil nasceu na Bahia, o Brasil cresceu por aqui.”


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