

Nos últimos anos tem circulado na internet, vídeos mostrando o leito seco do rio Taquari, no pantanal. As fotos a cima, são verdadeira, mas a notícia de que o rio Taquari morreu é falsa. Como a maioria dos rios que cortam a planície pantaneira, ele apenas mudou seu curso. Abandonou este canal migrando para uma área mais baixa, deixando um extenso leito seco, coberto de areia. No entanto, o rio continua vivo e pulsante, lançado suas águas por outro canal, distante daquele ponto.
Pesquisadores e estudiosos do pantanal já alertavam, prevendo a ocorrência desse fenômeno a anos atrás. “ A paisagem do Pantanal é mutante porque os rios são nômades, ou seja, divagam na planície mudando seu leito e traçando novos cursos ao longo do tempo” – (Anais 2º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Corumbá, 7-11 novembro 2009- Mario Luis Assine - Universidade Estadual Paulista – UNESP).
No rio Taquari ao longo de milhares de anos tem ocorrido mudanças de leitos e o surgimento de novos cursos. As noticias práticas das monções e o relatos de vários cientistas e pesquisadores tem comprovado este fato. Não é fruto de agora o assoreamento do rio. As mudanças de curso do rio são comprovadas não só pelos relatos dos que por aqui passaram ao longo de centenas de anos, mas também pelas imagens de satélites e as recentes revelações de trabalhos cientificas.
Em 1780 por determinação do Imperador, uma equipe de cientistas percorreu a bacia do rio Paraguai, com a finalidade de mapear os limites fronteiriços do Brasil. Chefiavam a equipe o Capitão Ricardo Franco de Almeida Serra, o renomado cartógrafo Dr. Antônio Pires da Silva Pontes, e o cientista Dr. Francisco José de Lacerda e Almeida. Em outubro de 1788, Lacerda e Almeida iniciou seus apontamentos sobre o rio Taquari, foi quando deixou registrado que em 1783, o canal do Taquari que descia pela região hoje denominada “Brejo do Taquari”, por onde as monções iam ter ao rio Paraguai, próximo a entrada do Paraguai-Mirim, foi entulhado de areia, passando a navegação a ser feita pelo canal que desaguava no atual Porto da Manga. Lacerda não só registrou o canal seco do Brejo do Taquari, como também, tendo observado o forte assoreamento em curso, que o canal que estava usando, para chegar ao Porto da Manga, também seria entulhado de areia.
" 28 [outubro de 1788] — Cheguei á foz do Rio Taquary pelas 10 h, da manhã, e n'ella dou principio a tirar o leito d'este rio, e dos mais por onde for preciso navegar para chegar á Araritaguaba, freguezia da Capitania de S. Paulo, e escala das canoas de comercio, que navegão para Cuyabá, fazendo n'esta longa derrota as observações Astronômicas, que necessárias forem para levantar depois um exacto e completo mapa, conforme as ordens que do dicto Sr. Generjil recebi. [...] Subi pelo Rio Taquary o restante do dia [...] — 31 — Com marcha de 3 legoas cheguei a um escoante do rio feito na margem oriental, por onde antigamente se navegava, e era a verdadeira madre do rio, mas que já está entupido pelas arêas; inconveniente, que tem accontecido a outros muitos, e suecederá talvez a este por onde vou navegando, porque a qualidade do terreno baixo e arenoso, como também a pouca altura do rio em varias partes o está promettendo.” (copia do diário que fez o Dr. Francisco José de Lacerda e Almeida, sendo mandado por Sua Magestade Fidélissima para as demarcações de Seus Reaes Domínios na América Portugueza, servindo nella de Astrônomo).
As observações de Lacerda se confirmaram, pois em 1998, o canal que ligava o Taquari ao Porto da Manga, no rio Paraguai, deixou de ser navegável. O novo curso principal do rio passou a ser o denominado Zé da Costa. As chalanas que abasteciam as fazendas existentes no médio Taquari, já não mais navegavam entrando no Taquari, pelo Porto da Manga, mas sim pelo rio Paraguai-Mirim, rio Negrinho e Arrombado Zé da Costa.
As aguas do Taquari, em 1999 haviam deixado de correr rumo ao Porto da Manga. O rio, neste trecho, ao invés de água apresentava agora um grande corredor de areia.
“Durante a década de 90, as águas do rio Taquari passaram a ser drenadas para a planície de inundação na margem direita do rio através do arrombado Zé da Costa, dando origem a um novo canal que, progressivamente, passou a ter sua vazão aumentada em detrimento do canal principal, até o abandono completo deste último” (Assine 2003).
“O antigo leito, do arrombado Zé da Costa à sua foz, no rio Paraguai, desapareceu ao longo de seus 82 km. Não há sinal de água e a areia depositada tornou-se trilha de gado e de veículo traçado.” (Fermiano Yarzon - Superintendente da Administração da Hidrovia do Rio Paraguai (Ahipar) - Dourados News - 25 março 2006 )
As mudanças de curso do rio Taquari têm ocorrido a milhares de anos, bem antes da ocupação dos atuais colonizadores.
“Alguns autores (DNOS 1974, Sudeco 1979, Santos et al. 1993, Tucci et al. 1997) afirmaram que o baixo curso do Taquari têm um leito instável, passível de risco para as atividades humanas, principalmente a agropecuária...”( PADOVANI)
“Projeto Resgate, Promoção e Valorização do Patrimônio Cultural Sul-Mato-Grossense através da temática histórica da Rota das Monções no Rio-Cênico Rotas Monçoeiras e seu entorno /OSC Espaço Manancial/ Fundo Estadual de Defesa e de Reparação de Interesses Difusos Lesados – FUNLES”.
Rota das Monções – “Se o Brasil nasceu na Bahia, o Brasil cresceu por aqui”.
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